A parcela da sociedade, grande imprensa e políticos inconformados com a possibilidade de um candidato do perfil de Jair Bolsonaro ganhar as eleições de 2018, ainda não entenderam que seu crescimento não se deve exclusivamente ao seu carisma ou suas propostas, mas sim à falta de opções que preservem a democracia e que deixe continuar o tão sonhado combate à impunidade que vinha sendo feito nos últimos anos, especialmente decorrente da operação lava-jato.
Os sinais eram nítidos. Desde de 2013, os brasileiros vinham se manifestando intensamente contra a qualidade dos serviços prestados pelo governo. Inicialmente, as pautas eram confusas. Porém, um recado era claro - não era possível continuar com o descaso que vinha sendo feito e falta de critério nas decisões sobre as prioridades governamentais.
Ainda por cima, veio o petrolão, para escancarar de vez a situação tenebrosa de praticamente todos os partidos políticos relevantes, e alguns dos menos expressivos. Quando não pela sua ação direta, pela sua cumplicidade no apoio aos partidos envolvidos.
Os políticos, principais responsáveis por tentar buscar uma resposta às exigências da sociedade, ao invés de reforçarem leis e apoio para as melhorias continuarem a serem realizadas, decidiram fazer reformas para dificultar a renovação política e enfraquecer as operações de combate à corrupção, em conjunto com parte do judiciário.
Não era necessário ser um candidato anti-pt ou anti-esquerda para prosperar nas preferências do eleitorado. Muitos dizem que o Alckmim não tem "carisma" para angariar votos nacionalmente para ser eleito presidente. Eu discordo. Garanto que se ele, mesmo com seu partido também envolvido em denúncias graves tivesse adotado o tom anti-corrupção, especialmente expulsando o Aécio Neves no momento adequado para simbolizar esta postura, o resultado seria outro. O único motivo que imagino para ele não ter incorporado este papel seria dele estar muito comprometido com as falcatruas.
Por outro lado, até mesmo o Ciro Gomes poderia ter se proposto a representar essa mudança. Ele tem o perfil tempestivo que o Bolsonaro também tinha. Porém, duas coisas ficaram claras. Não só vimos que o Ciro Gomes não consegue se controlar com suas declarações polêmicas, mas vimos também que o Bolsonaro consegue. Se o Bolsonaro mudou de fato, não temos como saber. Mas que ele consegue se controlar nos momentos cruciais, não há dúvidas.
Alguns ainda diriam que o Ciro não tinha o apoio suficiente de partidos para se tornar verdadeiramente competitivo. Nestas eleições estamos vendo que isso não é necessário, contanto que o candidato se posicione de forma clara anti-corrupção. A popularidade do Bolsonaro comprova isso. Ciro Gomes resolveu tentar deixar portas abertas para os partidos alinhados ideologicamente com ele para possíveis alianças. Nesta altura dos acontecimentos, o apoio de alguns partidos mais atrapalha do que ajuda.
Além disso, os envolvidos no processo resolveram atacar os eleitores do Bolsonaro. Mais um equívoco. O Bolsonarismo deixou de ser o apoio incondicional a um candidato polêmico. Tornou-se um movimento anti-sistema, que tem o Bolsonaro como representante deste movimento por falta de escolha. Qualquer um que tivesse entendido este espírito desde o início, teria condições de assumir esse papel. Não fizeram e agora correm o risco de pagar um preço muito alto. Excesso de confiança e arrogância ajudaram a proporcionar esta situação. Aparentemente, a sociedade está disposta a correr o risco de "sacrificar" 4 anos de governança em prol da continuação das ações de combate à impunidade aos mais poderosos - um dos maiores problemas estruturais de nosso país.