Somente no Brasil seria possível vislumbrar uma aliança deste tipo. Tenho certeza que muitos ateus possuem o mesmo pensamento que vou tentar detalhar agora.
Desde as manifestações de 2013, o país está passando por grandes transformações e amadurecimento ideológico. Apesar da tão citada polarização, muitos enxergam de forma negativa. Especialmente quando pensarmos que antes não havia polarização por causa de um pensamento hegemônico. A meu ver, falta do contraditório não faz bem a nenhuma sociedade minimamente saudável.
A tal da polarização vem ajudando determinados segmentos da sociedade refletir sobre alguns posicionamentos que vinham de encontro com determinados conceitos inaceitáveis. De pouco a pouco, fomos obrigados a chegar nos extremos das argumentações para começar a expor algumas realidades.
Peguemos o caso dos evangélicos e católicos. Até pouco tempo, estavam 100% fechados com a esquerda. Mesmo que, tradicionalmente, a ala progressista sempre defendesse o aborto e o ateísmo explicitamente. Foi necessária uma campanha presidencial pesada, e uma das mais baixas que existiu no Brasil, para os religiosos se darem conta de que não fazia o menor sentido apoiar qualquer candidato que fosse diretamente contrário a uma das bandeiras mais importantes dos cristãos – “pro life”. E ainda tivemos que testemunhar ateus indo à missa de domingo para ganhar voto. Uma das maiores vergonhas alheias que eu, como ateu, senti em toda minha vida. Um misto de sentimento de constrangimento com revolta, já que ser ateu, na essência, é ter coragem de encarar a realidade. Que estaria, indiretamente, associado à honestidade intelectual.
Mas onde quero chegar com isso? Está na hora de encararmos alguns fatos duros, porém reais e deixarmos alguns preconceitos ou divergências históricas de lado e tentar combater uma ideologia que apresenta estruturação religiosa, porém extremista – o socialismo / comunismo.
Apesar de o ateísmo ser bem relacionado à esquerda, temos o dever de não ser cooptado por nenhuma doutrina de pensamento uniforme. Além de ponderar algumas questões chave que, nos últimos tempos, tenho refletido bastante.
Como todo ateu, especialmente durante o início da libertação religiosa, adorava bater em religiões. De todos os tipos e de todas as formas. Eis que comecei a avaliar os reais danos diretos causados por religiões. Comecei a perceber que não eram tão diferentes assim como em diversos segmentos sociais. Especialmente se compararmos com movimentos esquerdistas. Mas calma, ainda vou chegar lá.
Claro que sabemos que guerras religiosas mataram muitas pessoas. Exemplos clássicos incluem as cruzadas e a inquisição. Certamente, com a disseminação intensa da informação e o avanço da média intelectual da humanidade, que ajuda a aumentar o nível de tolerância entre diferentes crenças e pensamentos, não vamos passar por outro período inquisitório, por mais forte que as igrejas se tornem.
Conforme vamos envelhecendo, acumulando informações e a história vai sendo revisionada, acabei percebendo também que as cruzadas foram uma reação à expansão violenta do islam, que por causa do ar revolucionário desta religião, é poupada de criticas por parte da esquerda, quando não absorve sua causa e métodos, por completo. De qualquer forma, este pensamento vai lado a lado com uma das principais linhas de pensamento de um grande militante do ateísmo, que respeito bastante - Sam Harris:
Sam Harris é Judeu e praticamente um discípulo do meu ideólogo favorito - Christopher Hitchens. Este, dispensa apresentações, e mais a frente falo um pouco sobre esta relação.
Voltando ao Sam Harris. Imagine como deve ser difícil para um judeu, ateu, acadêmico, intelectual, falar mal do islam. Pois é - tem sido a árdua tarefa dele, nos últimos tempos. Bater de frente com a doutrina do politicamente correto. E como um grande pensador, acaba reavaliando alguns conceitos de fluxo de pensamentos.
Recentemente, ele tem defendido, por assim dizer, algumas religiões judaico-cristãs. E comecei a avaliar números frios por conta das pesquisas que ele acaba citado para embasar muitos posicionamentos. Como esta questão das cruzadas e de outras estatísticas como percentual de radicais extremados em cada religião, e claro que o islam ganha em disparado.
Bom, vamos em frente. Não sei dizer se ele é de direita, centro ou esquerda. Parece-me um libertário. Ou um isentão. Porém, volta e meia, o vejo fazendo alguns comentários ponderados sobre o Trump. Algo inaceitável no meio “intelectual” ou acadêmico, mesmo que faça todas as ressalvas possíveis. Além disso, percebo que ele evidencia alguns fatos inquestionáveis sobre socialismo e comunismo, como número de mortes causada pelo movimento, contradições entre discursos e ações, e demais questões.
A esta altura, já me sinto confortável em propor tal aliança. Ainda mais quando lembrarmos da posicionamento político do símbolo do ateísmo militante contemporâneo - Christopher Hitchens.
Comentei que iríamos falar mais dele, a frente. Chegou o momento. Como a maioria de vocês, eu também era bem simpático à ideologia da esquerda quando mais novo e, principalmente, em função da hegemonia de pensamento. Talvez, por causa disso, eu tenha bloqueado da minha mente ou dado menor importância para o fato do Hitchens ser de direita. Afinal, o rapaz era tão brilhante que eu fazia vista grossa dele não pertencer ao mesmo espectro político que eu, naquele momento. Antes de eu passar pela transição turbulenta.
Mas, agora que as questões ideológicas estão se acomodando, posso pensar mais sobre este detalhe curioso do Hitchens ser convictamente de direita e sentir um certo alívio. Eu lembro que via algumas de suas declarações sobre posicionamento em relação a armas e ficava decepcionado e incrédulo. Pensava: como uma pessoa de pensamento sofisticado poderia se convencer desses absurdos.
Mas eu não sabia que eu me encontrava numa espécie de transe coletivo ideológico.
Mal sabia eu que fazia parte de uma segunda libertação e amadurecimento de idéias e conceitos, que ele também deve ter realizado e ponderado os fatos racionalmente, para formar sua convicção. Convenhamos, ele tem muito conhecimento para avaliar dados objetivos. Não é porque você é convicto de algum posicionamento que você é radical, como alguns isentões imaginam.
É neste sentido que acho esta ideológica extremamente perigosa e com estrutura de funcionamento semelhante a de algumas religiões. Virou crença. Pois não conseguimos mostrar a realidade com fatos ou números. Mesmo que convertam para seus objetivos. Surreal.
Outra pessoa que me fez refletir bastante sobre o papel das religiões, e especialmente o catolicismo, foi um youtuber, de pouca popularidade, chamado Conde Louppeux. Também fornece muitos dados históricos e estatísticos sobre as igrejas católicas. É um militante intenso. Mas reconheço seu alto nível de conhecimento. Apesar de expressar muitas falsas percepções sobre ateus, que dá vontade de responder. Só não faço por extrema falta de tempo.
Nesta linha, praticando a tolerância de divergência de pensamento religioso é que proponho uma aliança Ateu-Cristã, para combater a ideologia / doutrina que tem um potencial muito grande de cooptação dos jovens e um poder de destruição devastador. Ainda mais em países subdesenvolvidos que não possuem uma média educacional/cultural alta para lidar com o poder que um estado totalitário adquire, invariavelmente.
Chegou a hora de unir forças. Coesão religiosa proporcionada pelos cristãos e pragmatismo ateísta para eliminar problemas e ameaças subversivas à democracia.