Como comentei numa postagem anterior, continuo sendo fã do Reinaldo Azevedo, mesmo sem concordar ou até entender suas atitudes dos últimos meses.
Comentei sobre uma das hipóteses “nobres”, que talvez tenho o levado a adotar este tipo de postura. Caso não tenha lido ainda, sugiro que faça aqui para entender melhor meu ponto nesta postagem.
Faz algum tempo que identifiquei um padrão de como Reinaldo Azevedo tenta construir seus argumentos usando uma “lógica” de pensamento. Lógica esta que, em minha opinião, possui uma falha brutal, que não é de fácil percepção para pessoas que não trabalhem com lógica. Digo, lógica “de verdade”.
Isso não significa que eu seja mais ou menos inteligente ou informado em relação a outras pessoas. Apenas significa que por exercer a função de desenvolvedor de sistemas, obrigatoriamente me faz trabalhar com lógica matemática/programação (http://www.jorgemauricio.com), que resulta numa percepção mais apurada, em termos de lógica.
Volta e meia, via Reinaldo Azevedo construindo seus argumentos da seguinte forma:
Se fulano falou que não faria isso, significa “automaticamente”, que este fulano falou tal coisa ao contrário. Como se todas as situações tivessem apenas dois lado. Positivo ou Negativo. Zero ou um. Maniqueísta, como ele mesmo detesta.
Acontece que não só na vida real, mas também na lógica matemática/física, descobrimos recentemente que as situações podem ter mais de duas hipóteses, como sim, não ou “talvez”. Mas isso não vem ao caso agora, para não complicar a conversa.
Para facilitar, vou dar um exemplo concreto envolvendo o deputado federal Jair Bolsonaro. Estou usando este exemplo, não porque eu goste dele. Mas também não desgosto. Isso não vem ao caso. Vou utilizá-lo como exemplo porque foi quando comecei a identificar sua metodologia de argumentação, utilizando esta tal “lógica” e porque trata-se de uma situação que todos conhecem. O caso envolvendo a deputada Maria do Rosário.
Na ocasião, Bolsonaro falou para Maria do Rosário que “ela não merecia ser estuprada”, ou algo do gênero - https://www.youtube.com/watch?v=yRV98Im5zRs.
Depois de algum tempo, Reinaldo Azevedo comentou em diversos meios e publicações que se ele falou isso é porque se ela fosse um pouco melhor, poderia merecer ser estuprada. Ou que algumas mulheres mereciam ser estupradas. Acontece que ele não falou isso, nem implicitamente. Não existe só uma única hipótese de alternativa de significado contrário que ele poderia ter indicado ou expressado. Também não estou falando que ele não queria dizer o que a maior parte da população entendeu. Só estou colocando em evidência como o mecanismo de argumentação do Reinaldo Azevedo funciona.
Existem várias outras hipóteses sobre o que ele “automaticamente” teria dado ao entender quando fez o comentário “você não merece ser estuprada”, como:
- “Você não merece ser estuprada, assim como nenhuma mulher merece ser estuprada.”
- “Você não merece ser estuprada, assim como mulheres bonitas também não merecem ser estrupadas.”
- “Você não merece ser estuprada, assim como mulheres bonitas e mulheres feias não merecem ser estupradas.”
Uma afirmação não dá significado “automático” a outras. Assim como se eu falar que não vou ao cinema, não significa automaticamente que vou ao teatro. Posso ir para casa, para o parque, para o restaurante e assim por diante. Foi assim que comecei a identificar vários momentos em que Reinaldo Azevedo utiliza esta mesma técnica para convencer sobre suas idéias. Ainda mais quando joga o termo “pensamento lógico” no meio da conversa. Afinal, quem não quer estar ao lado da lógica?
Bom, dito isso, vamos ao que interessa. Nestas últimas semanas, comecei a perceber uma nova técnica que Reinaldo Azevedo vem tentando utilizar para convencer sua audiência para “ficar ao seu lado”, e conseqüentemente, ao lado do governo atual, mesmo que ele negue veementemente que se trata disso.
De fato, ele tem acertado sobre muitas questões envolvendo os acontecimentos atuais no governo e no supremo. Sim, ele tem um extenso conhecimento jurídico, isso é inegável. Mas está longe de ter os 100% de acerto, como exalta, constantemente. Basta suas opiniões sobre a Odebrecht e em especial, Marcelo Odebrecht, em que errou feio em suas análises. Assim como todos nós, ele só gosta de contar vitórias.
A questão é que ele quer utilizar esta “credibilidade” adquirida, para nos convencer de que se nós da sociedade civil começarmos a pedir fora Temer, aumentaremos o risco do PT voltar ao poder e especialmente ELE - o nome que não se deve pronunciar. Quer nos convencer que há este risco e ainda de fortalecer a esquerda, e que se acontecer, a culpa será nossa.
Eu entendo seu desejo em “salvar” a economia e o país, como expliquei nesta postagem. Porém, mais importante para nós agora, depois de ter enfrentado a maior crise política/econômica de todos os tempos, vale mais tentar punir os corruptos e instalar uma nova cultura, sem o problema grave da impunidade no país, do que salvar um ciclo econômico que terá um efeito de prazo limitado. Já passamos pela pior fase. Agora é hora de segurar mais um pouco para concluir o serviço, custe o que custar. Esta crise só vai ter valido a pena se os corruptos forem punidos severamente.
Eu, particularmente, ainda não estou estimulado a gritar fora Temer, pois estou vendo muitas questões terem avanços, de acordo com meu ponto de vista ideológico. Porém, não vejo problema nenhum de pressionar, especialmente se o presidente continuar abrigando políticos suspeitos em seu governo. É uma chance de unificar a população partida com uma bandeira que garanto que todos estão de acordo, independentemente do espectro político – fim da impunidade – todos iguais perante a lei – diminuição da corrupção.