quarta-feira, 24 de maio de 2017

Reinaldo Azevedo - Agora Complicou

Antes de tudo, vou lembrar novamente que sou fã desse jornalista, como já expliquei anteriormente nestas duas postagens:


Claro que a notícia bombástica sobre sua saída de seus dois principais trabalhos está tomando a maior parte do espaço na web. Porém, existe uma análise que não está sendo levada em consideração nesta história. E vou usar a tão famosa "lógica de pensamento", que Reinaldo Azevedo adora, utilizar - ou, pelo menos, acha que segue.

Para contextualizar, aqueles dois links que lembrei acima, tratam da óbvia mudança de postura do Reinaldo Azevedo teve sobre a Lava Jato e, principalmente, sobre punição aos corruptos, que defendia tanto, mas que agora releva por causa de conseqüências a curto prazo, que possa resultar. Caso interesse saber minhas considerações detalhadas sobre estas questões, sugiro que leiam as postagens anteriores. Resumindo muito, tento ponderar que esta mudança nos seus comentários foi em função de "estabilidade institucional" necessária para conseguir aprovar reformas essenciais, de acordo com sua ideologia.

Porém, com a divulgação das conversas de hoje, estou vendo uma situação muito mais grave do que o fato em si dele ter saído dos dois veículos importantes. Algo que realmente pode trazer uma conseqüência negativa imensurável, se for analisada por um determinado ângulo. Já vi alguns jornalistas comentarem que não teve nada de ilegal nas conversas, mas sim, imoral. Na minha visão, é mais que isso.

Vejo uma situação muito mais grave, preste atenção. Reinaldo Azevedo, ao tentar se defender-se (ou justificar-se) previamente do conteúdo nos grampos, ressalta que seria importante garantir o sigilo das fontes de jornalistas (http://www.jb.com.br/pais/noticias/2017/05/23/reinaldo-azevedo-pede-demissao-da-veja-apos-grampo-com-andrea-neves/). Até aí, tudo bem, não há como discordar. O que me chamou a atenção nisso tudo, foi um pequeno detalhe que somente quem acompanha o trabalho de Reinaldo Azevedo durante estes últimos anos poderia perceber. Quando ele afirma que a irmã do Aécio Neves e o próprio Aécio são suas fontes.

Para entender a gravidade da questão, o contexto de outro grampo em que o Aécio Neves conversa com Joesley Batista expõe abertamente que ele estava trabalhando, noite e dia, para aprovar mecanismos legislativos que, em tese, anistiariam diversos crimes investigados nas operações recentes que deixaram o mundo político em pânico.


Agora, lhe pergunto: quem era uma das únicas vozes na imprensa identificada com a direita, que negava com veemência a conspiração dos políticos em melar a Lava Jato e ainda desdenhava diariamente de quem apontasse as ações legislativas, neste sentido, de forma quase semelhante a um mantra - Reinaldo Azevedo!

Quem o acompanha, sabe do que estou falando. Não passava um dia em que Reinaldo Azevedo fazia questão de desqualificar procuradores da Lava Jato, o próprio juiz Sérgio Moro, além de fazer graça de qualquer veiculo alternativo ou tradicional que apontasse para as tentativas de frear as operações de forma sorrateira e quando as instituições mais necessitavam de apoio para seguir em frente. Por isso, comecei a desconfiar e confesso que assistia menos aos seus programas e comentários.

Vamos ao raciocínio lógico, que me deixa muito triste. Se Aécio Neves, que é admitidamente uma das fontes de Reinaldo Azevedo, se entregou nos grampos como um dos principais articuladores para passar legislações que resultassem em anistias, além de enfraquecimento das operações, podemos chegar somente a duas conclusões: ou Reinaldo Azevedo sabia de todas estas articulações e ainda fazia parte da trama para conseguir executar o plano macro, para que a médio prazo, o partido que tem mais afinidade com sua ideologia chegar ao poder, ou o Aécio era uma péssima fonte e o usava apenas como instrumento de apoio do partido, sem ele saber. Não sei sobre vocês, mas acho que Reinaldo Azevedo não seria tão ingênuo para se enquadrar na segunda hipótese.

terça-feira, 7 de março de 2017

Reinaldo Azevedo – O Maquiavélico

Como comentei numa postagem anterior, continuo sendo fã do Reinaldo Azevedo, mesmo sem concordar ou até entender suas atitudes dos últimos meses.

Comentei sobre uma das hipóteses “nobres”, que talvez tenho o levado a adotar este tipo de postura. Caso não tenha lido ainda, sugiro que faça aqui para entender melhor meu ponto nesta postagem.

Faz algum tempo que identifiquei um padrão de como Reinaldo Azevedo tenta construir seus argumentos usando uma “lógica” de pensamento. Lógica esta que, em minha opinião, possui uma falha brutal, que não é de fácil percepção para pessoas que não trabalhem com lógica. Digo, lógica “de verdade”.

Isso não significa que eu seja mais ou menos inteligente ou informado em relação a outras pessoas. Apenas significa que por exercer a função de desenvolvedor de sistemas, obrigatoriamente me faz trabalhar com lógica matemática/programação (http://www.jorgemauricio.com), que resulta numa percepção mais apurada, em termos de lógica.

Volta e meia, via Reinaldo Azevedo construindo seus argumentos da seguinte forma:
Se fulano falou que não faria isso, significa “automaticamente”, que este fulano falou tal coisa ao contrário. Como se todas as situações tivessem apenas dois lado. Positivo ou Negativo. Zero ou um. Maniqueísta, como ele mesmo detesta.

Acontece que não só na vida real, mas também na lógica matemática/física, descobrimos recentemente que as situações podem ter mais de duas hipóteses, como sim, não ou “talvez”. Mas isso não vem ao caso agora, para não complicar a conversa.

Para facilitar, vou dar um exemplo concreto envolvendo o deputado federal Jair Bolsonaro. Estou usando este exemplo, não porque eu goste dele. Mas também não desgosto. Isso não vem ao caso. Vou utilizá-lo como exemplo porque foi quando comecei a identificar sua metodologia de argumentação, utilizando esta tal “lógica” e porque trata-se de uma situação que todos conhecem. O caso envolvendo a deputada Maria do Rosário.

Na ocasião, Bolsonaro falou para Maria do Rosário que “ela não merecia ser estuprada”, ou algo do gênero - https://www.youtube.com/watch?v=yRV98Im5zRs. 


Depois de algum tempo, Reinaldo Azevedo comentou em diversos meios e publicações que se ele falou isso é porque se ela fosse um pouco melhor, poderia merecer ser estuprada. Ou que algumas mulheres mereciam ser estupradas. Acontece que ele não falou isso, nem implicitamente. Não existe só uma única hipótese de alternativa de significado contrário que ele poderia ter indicado ou expressado. Também não estou falando que ele não queria dizer o que a maior parte da população entendeu. Só estou colocando em evidência como o mecanismo de argumentação do Reinaldo Azevedo funciona. 



Existem várias outras hipóteses sobre o que ele “automaticamente” teria dado ao entender quando fez o comentário “você não merece ser estuprada”, como:

- “Você não merece ser estuprada, assim como nenhuma mulher merece ser estuprada.”
- “Você não merece ser estuprada, assim como mulheres bonitas também não merecem ser estrupadas.”
- “Você não merece ser estuprada, assim como mulheres bonitas e mulheres feias não merecem ser estupradas.”

Uma afirmação não dá significado “automático” a outras. Assim como se eu falar que não vou ao cinema, não significa automaticamente que vou ao teatro. Posso ir para casa, para o parque, para o restaurante e assim por diante. Foi assim que comecei a identificar vários momentos em que Reinaldo Azevedo utiliza esta mesma técnica para convencer sobre suas idéias. Ainda mais quando joga o termo “pensamento lógico” no meio da conversa. Afinal, quem não quer estar ao lado da lógica?

Bom, dito isso, vamos ao que interessa. Nestas últimas semanas, comecei a perceber uma nova técnica que Reinaldo Azevedo vem tentando utilizar para convencer sua audiência para “ficar ao seu lado”, e conseqüentemente, ao lado do governo atual, mesmo que ele negue veementemente que se trata disso.

De fato, ele tem acertado sobre muitas questões envolvendo os acontecimentos atuais no governo e no supremo. Sim, ele tem um extenso conhecimento jurídico, isso é inegável. Mas está longe de ter os 100% de acerto, como exalta, constantemente. Basta suas opiniões sobre a Odebrecht e em especial, Marcelo Odebrecht, em que errou feio em suas análises. Assim como todos nós, ele só gosta de contar vitórias.

A questão é que ele quer utilizar esta “credibilidade” adquirida, para nos convencer de que se nós da sociedade civil começarmos a pedir fora Temer, aumentaremos o risco do PT voltar ao poder e especialmente ELE - o nome que não se deve pronunciar. Quer nos convencer que há este risco e ainda de fortalecer a esquerda, e que se acontecer, a culpa será nossa. 

Eu entendo seu desejo em “salvar” a economia e o país, como expliquei nesta postagem. Porém, mais importante para nós agora, depois de ter enfrentado a maior crise política/econômica de todos os tempos, vale mais tentar punir os corruptos e instalar uma nova cultura, sem o problema grave da impunidade no país, do que salvar um ciclo econômico que terá um efeito de prazo limitado. Já passamos pela pior fase. Agora é hora de segurar mais um pouco para concluir o serviço, custe o que custar. Esta crise só vai ter valido a pena se os corruptos forem punidos severamente.

Eu, particularmente, ainda não estou estimulado a gritar fora Temer, pois estou vendo muitas questões terem avanços, de acordo com meu ponto de vista ideológico. Porém, não vejo problema nenhum de pressionar, especialmente se o presidente continuar abrigando políticos suspeitos em seu governo. É uma chance de unificar a população partida com uma bandeira que garanto que todos estão de acordo, independentemente do espectro político – fim da impunidade – todos iguais perante a lei – diminuição da corrupção.