domingo, 11 de dezembro de 2016
Reinaldo Azevedo - O Ingênuo
Primeiramente, gostaria de destacar que sou fã desse jornalista e o considero um dos melhores em atuação, ultimamente. Concordo com muitas opiniões dele, porém ele diz que utiliza uma lógica para formar suas opiniões e é nessa lógica deficiente que vou pautar meus argumentos. Preste atenção:
Chamo de ingênuo porque não consigo acreditar que tenha qualquer outro motivo malicioso para ele agir da forma que tem feito, quanto ao inabalável "estado democrático de direito".
A primeira questão é a mais evidente. Suas críticas à força tarefa da lava jato e até em quem apóia seus integrantes. Especialmente sobre algumas atitudes que ele considera excessos e por isso, o "estado democrático de direito" estaria correndo algum risco. Seu principal argumeno é que estão exagerando nas apresentações de denúncias. Ou dando muita publicidade às denúncias. E que este tipo de conduta seria completamente desprovido com relação ao cidadão comum. O que ele esquece é que estas pessoas, por mais que possamos contestar, não são cidadãos comuns. São ex-políticos, mas ainda com muita influencia e capacidade de mobilização social e política. Para alguns, até "mitos vivos". Eles mesmos se consideram diferenciados e acima da lei. Vou mais além - muitos deles são extremamene perigosos, equivalentes a chefes de máfia da pior espécie. Sendo assim, o ministério público e a polícia federal não pode conduzir estas investigações também de forma convencional.
Precisam usar recursos equivalentes aos que a organização criminosa usa. A ORCRIM possui financiamento praticamente ilimitado decorrente de verbas desviadas para fazer propaganda e construir suas narrativas, além da movimentação no congresso para modificar as regras a seu favor. O MP e a PF precisam usar seus recursos reciprocamente. Neste caso, seria o esclarecimento público dos fatos para que a sociedade fique atenta a qualquer tentativa de manobras da ORCRIM, como vimos acontecer diversas vezes.
Até aí, o Reinaldo Azavedo querer que tudo ocorra conforme estabelecido em lei, tudo bem, mesmo sendo um pouco maniqueista ou binário, como ele mesmo já comentou que não deveríamos ser. Começam as incoerencias e falhas em suas lógicas de pensamento, como ele sempre ressalta.
O "problema" mesmo, começa quando ele faz algumas analises mais frias sobre as questões em curso. Vamos pegar como exemplo a mais recente situação do Ministro do Supremo Marco Aurélio Melo que consedeu uma liminar para afastar o presidente do senado. É bem verdade que sua análise acabou se confirmando. Porém, é bem verdade também que a interpretação das leis é bem flexível e frouxa. Poderia ser decidido pelo afastamento com o mesmo grau de convencimento. Aliás, praticamente qualquer decisão polêmica pode ser justificado para qualquer lado com o pleno domínio jurídico. Está longe de ser uma ciência exata. Muito pelo contrário. Ainda mais quando analisamos o nível do congresso, ou melhor, que as faz.
A minha desconfiança é que em muitos casos, incluindo esse, Reinaldo Azevedo acaba optando por defender aquela interpretação que de alguma forma, não ponha em risco muitas das propostas que estão encaminhadas no congresso para aprovação.
Antes de continuar, quero deixar claro que eu também sou a favor de muitas destas propostas, com o objetivo de diminuição do estado e austeridade. É necessário ter algum mecanisco que limitam o crescimento dos gastos do estado? Sim. É necessário reformar a previdência? Sim. É necessário fazer uma reforma tributária? Sim. É necessário fazer uma reforma trabalhista? Sim. É necessário fazer uma reforma política? Sim. O atual governo está sinalizando neste direção? Sim. É uma oportunidade rara que temos para aprovar estas mudanças devido a questões políticas? Sem dúvida. Corremos o risco de não promover essas mudanças se houver mais instabilidade no governo? Infelizmente, sim. Porém não podemos querer manter o encaminhamento dessas reformas a qualquer custo. Ou melhor, com o risco de muitos desses "atores" serem aliviados em função dessa estabilidade governamental para garantir a aprovação dessas reformas cruciais.
São pessoas perigosas, poderosas, criminosas. Que precisamos apoiar as punições na primeira oportunidade que tivermos. Especialmente quando havia condições legais para isso. E muitos juristas defendiam que os argumentos legais eram fortes. Não vou nem comentar sobre a parte em que o senador não foi preso por não cumprimento da ordem jurídica. Certamente, isso será esquecido com facilidade para manter a tal "estabilidade".
Agora é que a situação se complica um pouco. A partir do momento que Reinaldo Azevedo, supostamente, decide defender esse tipo de postura para garantir o encaminhamento destas reformas, que são ideológicas, ele não estaria praticando exatamente aquilo que ele tanto combateu durante estes últimos anos? O termo que ele próprio criou - Petralha - não significa usar de meios ilícitos para colocar em prática a ideologia a qualquer custo?
Arrisco a dizer que sobre estes últimos vazamentos da delação da Odebrecht, em que as evidências são fortes de que o Presidente Michel Temer esteja também envolvido com algumas operações duvidosas, Reinaldo Azevedo vai tentar encontrar uma forma de convercer de que as operações foram legais, vindo de doações legais, sem contrapartida, e muito menos lavagem de dinheiro ou coisas do gênero.
Vejo um pouco disso acontecer, nestes casos. Não sobre meios ilícitos, mas interpretações tendenciosas das leis para prosseguir de forma "estratégica". Claro, mais sofisticado que simplesmente alocação de recursos financieros para compra de apoio. Seriá um apoio intelectual. Reinaldo Azevedo pode falar que não, mas ele tem uma certa relevância no cenário político. Ele sabe disso. Seu endosso sobre qualquer questão política é importante. Seria um espécie de Petralhas às Avesas - PA.
Antes que encrenquem com meu português, desculpem-me, mas não sou escritor ou jornalista. Sou apenas um cidadão assistindo a tudo que está ocorrendo e que vejo uma boa chance de punirmos os envolvidos que levaram nosso país para o buraco. Na minha visão, esta oportunidade de terminar com a impunidade é mais importante que a oportunidade de executar as reformas. Por isso, acredito que tenhamos que apoiar situações deste tipo sempre que pudermos, independentemente de toda a instabilidade política que possa resultar. Lembre-se - essa possível instabilidade não é consequência de supostas decisões jurídicas equivocadas, e sim de atitudes deploráveis das pessoas envolvidas.
Assinar:
Postagens (Atom)