quarta-feira, 4 de maio de 2016

Cientocracia


Dizem que a democracia capitalista é o sistema de governo que mais deu certo até o momento, apesar de suas inúmeras falhas. Eu tendo a concordar.

Porém, me ocorreu um outro método mais racional de tomada de decisão. Estou chamando de cientocracia. Este termo já deve ter sido cunhado por algum estudo sobre o assunto. Mas não tenho muitas horas de estudo e de leitura para conseguir afirmar se já ocorreu ou não.

Este conceito começou a se formar nas minhas idéias com algumas entrevistas do Peter Joseph, que foi o criador de um dos melhores documentários modernos e independentes que vi nos últimos tempos - Zeitgueist. Acredito que todo ateu venera este documentário. Não só por seu conteúdo bem construído, desmistificando a crença, mas também por sua organização de idéias, edição e até humor, em alguns momentos.

Através do sucesso do documentário, Peter Joseph acabou criando um movimento secular, chamado zeitgeist movement. Existem vários pilares de sustentação para o movimento, com a idéia central de promover uma nova organização social que resultaria em melhor qualidade de vida, menos horas necessárias para trabalhar, sustentabilidade, e alguns outros pontos consideráveis.

Uma de suas entrevistas mais extensas sobre o assunto, o moderador do programa perguntou justamente sobre a organização política de tal nova organização social. Não lembro exatamente se ele confirmou que ainda seria necessário ter uma classe política. Mas lembro de um determinado ponto que sugeriu que as decisões, leis e regras seriam tomadas cientificamente, ou melhor, através de estudos científicos que determinassem a melhor solução para aquela questão. Daí que imaginei esta nova modalidade de organização social- cientocracia. Talvez este termo tenha aparecido em algumas de suas entrevistas e tenha ficado no meu subconsciente. Mas não posso afirmar ao certo.

Inicialmente, o mediador do programa não entendeu direito esta forma de decisão. Confesso que eu também fiquei um pouco sem entender. Mas depois que eu pensei mais sobre o assunto, captei o conceito da idéia. Funcionaria da seguinte forma: você tem uma questão a resolver. Promove alguns estudos científicos/matemáticos sobre a questão. A solução que apresentar ser a mais eficiente, aplica-se à questão. Sem necessidade de classe política para votar, o que dá margem para barganhar e corromper. Parece que não, mas acredito que a maior parte das questões do congresso poderia ser resolvidas dessa forma. As únicas questões que talvez ainda fosse necessário ter uma classe política para representar o "povo", seria sobre questões ideológicas, morais e éticas, pois não há ciência exata para isso, pois depende de questões culturais para uma determinada atitude ser considerada moral ou não.

Dessa forma, a classe política teria menos interferência nos acontecimentos econômicos e produtivos daquela sociedade. Gastariam menos tempo com questões que talvez nem entendam direito e de quebra resolveria um problema que o Luis Felipe Pondé, filósofo contemporâneo brasileiro com quem eu concordo muito e gosto bastante de seus posicionamentos independentes.

Luis Felipe Pondé argumenta que a democracia está desgastada, apesar de ainda ser o melhor sistema político que conhecemos. Está desgastada não só pela dificuldade de criarmos um sistema verdadeiramente representativo do povo mas também por outras questões. A minha questão, que não é a dele, mas talvez tenha leve semelhanças e de que o "excesso de democracia" pode acabar criando dificuldades no avanço e definição de questões emergenciais. Primeiro ponto: em qualquer sociedade subdesenvolvida e até em algumas desenvolvidas, a maior parte da população é burra e ignorante (no bom sentido, de não ser provido de educação de alta qualidade, seja pelo estado ou seja pela condição financeira que o estado proporciona àquela sociedade para se educar). Logo, se a maior parte da população é burra e ignorante, acabam elegendo, pelo voto direto proporcional, burros e ignorantes. Por isso é tão assustador o baixo nível de pessoas eleitas no congresso. O que também explica um fenômeno que ocorre aqui, mas também ocorre em muitas partes do mundo - a campanha que tiver mais dinheiro, ganha a eleição. Aparentemente, nossa classe política já percebeu isso há bastante tempo. E vemos nos dias de hoje a descoberta dos maiores escândalos de corrupção da história da humanidade. Os partidos e seus dirigentes tentam criar narrativas alternativas, mas não é por convencimento ideológico. Acredito mesmo que seja por um plano maquiavélico, que sabiam exatamente o que estavam fazendo com o intuito de prolongar a permanência no poder o quanto fosse possível. Aliás, o plano de se manter no poder é comum a qualquer partido, sem recriminação, pois deve ser um de seus objetivos. Apenas sou contra o desvio de verba pública para fazer isso acontecer. Existe uma maneira simples de diminuir bem a corrupção dessa maneira. Basta criarmos uma lei para proibir qualquer propaganda política. Pois quem tem as melhores campanhas de marketing, elegem seus candidatos numa sociedade com baixa escolaridade.

Sempre digo que sou um eterno otimista, mesmo em situações assombrosas como estamos vendo de um tempo para cá. Um dos motivos do meu otimismo é que vejo um país nessa direção da cientocracia. Alemanha. Claro que não podemos nos comparar com um pais que tem uma origem cultural muito maior que a nossa. Mas pode ser um primeiro passo para o que espero ser uma tendência mundial em nossa nova era da informação.

Recentemente, vi um pequeno documentário sobre algumas características gerais da Angela Merkel -  Chanceler da Alemanha. O documentário fez uma pequena biografia da Angela Merkel e pude perceber uma certa semelhança ao conceito de cientocracia, já com resultados práticos e mais importante, positivos. Aparentemente, Angela Merkel é uma ex-acadêmica na área de física. E de quebra teve suas origens da parte oriental da Alemanha. Certamente utiliza tudo que aprendeu no ambiente acadêmico, e que na Alemanha é muito forte, para tomada de decisões. Além disso, deve ter se rodeado de pessoas do mesmo gabarito ou melhor para ajudar nas avaliações. Ou melhor, não é uma "política de carreira", como conhecemos em muitas outras partes do mundo.

15/01/2016 - São Paulo
Jorge Mauricio