O que é o sentimento? Porque existe? São perguntas que dificilmente serão respondidas. Então, não custa “viajarmos” um pouco na elaboração de uma explicação.
Vamos pensar nos primórdios da vida terrestre, onde a maior parte da vida era bacteriana e microscópica. Acredito que o sentimento não existia nesta época. Conseqüentemente, a forma de viver era mais simples e menos problemática. Bactérias se alimentavam, se comunicavam, se reproduziam, se organizavam. Um verdadeiro paraíso. Até o momento em que as colônias bacterianas começam a se organizar em organismos um pouco mais complexos. Pronto! Eis a maça de Adão e Eva.
Organismos mais complexos são mais suscetíveis a erros na reprodução genética, pois a quantidade de informação a ser reproduzida é muito grande. Então, mutações ocorrem. Cada mutação é um pequeno passo para uma nova espécie, em que a forma de alimentação também é modificada. Até chegar o ponto de organismos se alimentarem de outros organismos. É hora de criar meios de se locomover para não virar alimento. Os organismos que tiveram uma mutação e desenvolveram características físicas para se locomover foram privilegiadas e sobreviveram. Porém, acabaram adquirindo também um sistema de controle, coordenação e sensibilidade. Por final, um sistema cerebral e um sistema nervoso resolveriam esta questão. Será que é juntamente com a criação da nossa parte mais importante que surge o sentimento? Pela necessidade de fugir de predadores. Dessa forma o primeiro sentimento seria o medo!
Podemos pensar que logo após o surgimento do sentimento (inicialmente somente o medo) desenvolvemos também a dor física. Por quê? Acho que esta questão é mais fácil. Primeiramente para sentir outros organismos entrando em contato uns com os outros. Aliás, organismos que adquiriram sensibilidade ao toque por acidente, ganharam vantagem sobre os outros organismos justamente pela habilidade de conseguir sentir uma ameaça e fugir rapidamente. Imaginemos que anteriormente os organismos já entravam em contato. Porém, na maior parte das vezes, era para reproduzir, então provavelmente não sentiam qualquer sensação física. Então porque a dor? Provavelmente para dar o sinal de que o outro organismo está entrando em contato não para reproduzir, mas para se alimentar, ou melhor, matar. É necessária uma indicação muito forte para o organismo reconhecer que está em perigo – a dor física. Podemos concluir que a sensação de dor veio antes da sensação de prazer? Provavelmente!
E outros sentimentos? Como podemos imaginar como se desenvolveram? A partir do momento em que o sistema de comando do organismo já teve a capacidade de reconhecer este primeiro sentimento de medo, os outros são mais fáceis de serem identificados, pois os mecanismos que geram os sentimentos já estão prontos. Quando temos qualquer sentimento, um conjunto de elementos químicos é liberado em nosso organismo para provocar as reações e alarmes necessários para a definição daquele sentimento – indicar se é bom ou ruim.
É fácil imaginar que o apego a mãe foi desenvolvido pelo fato dela alimentar seu filho, já que ela era responsável diretamente a uma sensação de prazer – a alimentação. O sentimento de prazer decorrente da alimentação também deve ter sido desenvolvido pelo nosso organismo para sinalizar que precisamos ingerir alimentos para que nosso organismo continue a funcionar.
É o apego ao pai? Imagino que neste caso são duas situações distintas. A primeira mais rudimentar, que talvez ocorra com mais freqüência no reino animal e na nossa espécie primitiva. Normalmente entre as espécies, o sexo masculino possui um vigor físico mais avantajado sobre o sexo feminino, então o encarregado natural de “defender” o lar de possíveis predadores, ficaria por conta do sexo masculino – provedor da segurança. A segunda é uma questão mais moderna, pois pode ser atribuída à função do pai desempenhar o papel de mentor do filho e passar as experiências válidas, que só são reconhecidas depois de muita maturidade.
E o amor ao sexo oposto? Sem dúvida é para estimular a procriação da espécie – ou melhor, espécies que sentiam mais prazer no sexo, reproduziram infinitamente mais que os que não sentiam prazer e as heranças genéticas das espécies que não sentiam prazer no ato sexual foram sendo deixadas para trás e em algum momento deixando de existir. Isso explica um pouco do porquê de nossa sociedade ser movida a sexo. E dentro deste pensamento podemos incluir o sentimento de prazer no ato do sexo.
Mas porque existe o ciúme, sentimento de posse ou questões do gênero, já que são sentimentos “ruins”? Não vou tentar abordar a fundo estas questões, pois existem muitas teorias psicológicas sobre estes temas. Superficialmente falando, acredito que seja muito mais um sentimento decorrente de convenção social do que qualquer outra coisa. O problema é mais na sensação de ser o “otário da história” perante a sociedade. Ninguém gosta de se sentir desta forma, seja em qualquer sociedade. Já vi muitas situações em que o outro tem uma facilidade muito maior em perdoar uma traição, quando esta traição não é exposta a ninguém no meio em que convive. Existem muitos países em que a poligamia é permitida. E no reino animal monogamia é a exceção da regra. Será que nestes casos estes sentimentos “ruins” são tão intensos assim?
E como podemos projetar a evolução dos nossos sentimentos com todas estas mudanças significativas acontecendo na humanidade. Mudanças em comunicação, difusão da informação, racionalidade, entre outras. Será que nossos organismos não terão mais necessidade de sentir a dor física, pois temos meios racionais de saber onde está o perigo? Mesmo que o perigo seja sutil como uma doença, pois em breve teremos meios de monitoramento de nossa saúde constantemente. Será que perderemos a sensação de medo aos poucos? A solução dos problemas existentes é uma forma de perdermos os medos. Por ser um eterno otimista, acredito que iremos solucionar todos.